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Artigos

IMPARCIALIDADE:

Obrigação ou utopia?

Julia Gerchenzon

13 Abril, 2020

Agro é pop, agro é tech, agro é tudo

O slogan da publicidade do Grupo Globo sobre a indústria agrícola do Brasil é bastante conhecido, o que muitos ainda não sabem, é que a família Marinho é dona de fazendas e empresas de produção agropecuária. O dono do Grupo Record, o bispo Edir Macedo é o líder da Igreja Universal do Reino de Deus e é dono de 49% do banco Renner.

O CEO da CNN Brasil é o jornalista Douglas Tavolaro, um dos autores da biografia de Edir Macedo, que também é seu tio. O Conselho Administrativo e o investidor do canal é o fundador do banco Inter, Rubem Menin. Ele também estava à frente da MRV Engenharia, uma das patrocinadoras do filme sobre a  biografia de Edir Macedo. A Pagseguro, empresa que atua como meio de pagamento eletrônico e instituição bancária, pertence ao Grupo Folha, que detém um dos principais jornais impressos do país e o site UOL. 

De acordo com o levantamento da pesquisa sobre a concentração midiática no Brasil, produzida pelo Monitor sobre Propriedade da Mídia (MOM em inglês), em parceria com a ONG Repórteres Sem Fronteiras e o Coletivo Intervozes, os donos dos principais grupos de mídia do país têm investimentos em diversos outros setores; educação, saúde, imobiliário, financeiro, agrário e mais.

O projeto MOM- Brasil tem o objetivo de analisar os principais veículos midiáticos do país com maior potencial de influenciar a opinião pública. Segundo a pesquisa, os quatro principais grupos de mídia concentram uma audiência nacional, que ultrapassa 70%, no caso da televisão aberta. Essas grandes mídias influenciam como os fatos são vistos e debatidos em sociedade, e contribuem para a formação de uma opinião pública. É importante lembrar que a independência e pluralismo da mídia são essenciais para um sistema democrático. 

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(Foto: site MOM Brasil)

De acordo com o coordenador do projeto no Brasil André Pasti: ''As pessoas precisam saber dos interesses que estão por trás do que ela está lendo no jornal ou vendo na TV. Se a pessoa não sabe que está vendo uma TV cujo proprietário é ruralista, ela vai ter dificuldade de filtrar a informação, bem como de perceber uma posição editorial contra a reforma agrária, por exemplo".

No Brasil, muitas vezes, o posicionamento dos grupos de mídia não é transparente. A linha editorial é percebida nos detalhes, uma fonte que é deixada de ser ouvida, dados que são descritos de uma forma específica, as palavras escolhidas, os recortes das imagens e principalmente a edição do conteúdo (descartado) das reportagens.  Mas há casos explícitos de manipulação da informação pelas grandes mídias. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) afirma que nas eleições presidenciais passadas, os noticiários da Record manipularam abertamente informações a favor do candidato do PSL (atual presidente, Jair Bolsonaro). De acordo com Paulo Zocchi, presidente do sindicato, na página inicial do Portal R7 tinha um padrão de quatro matérias de destaque: duas favoráveis ao Bolsonaro e duas críticas ao Haddad.

A maioria dos meios de comunicação tem uma posição política e uma linha editorial e isso deve ser explícito. Assim, o público tem a consciência de que conteúdo não é verdade absoluta. É impossível uma mídia ser imparcial, mas isso não quer dizer que não devemos seguir pela busca dessa utopia. A imparcialidade existe, mas ela precisa ser explícita e justa.

CONTINUA

Pedro Bueno

13 Abril, 2020

A parcialidade intrínseca 

Em uma sala de imprensa, vários jornalistas se apertam para buscar uma versão da coletiva que vai ser realizada. É comum vermos diferentes matérias de um mesmo ocorrido. Cada repórter faz a pergunta no viés da matéria que quer produzir. Se para o veículo X, o que o presidente comeu, hoje de manhã, é algo que não faz diferença, enquanto para o veículo Y, a dieta presidencial é um assunto de exploração. O jornalismo é uma profissão, que por essência, se diz imparcial. Até ingressar na faculdade, o futuro profissional acredita nisso. É uma das normas do jornalista, correto? Com o passar do tempo, as experiências criadas mostram que a imparcialidade não existe. O termo, hoje, principalmente no Brasil, pode ser desmembrado em dois significados para a mesma definição. Tomar partido de um lado do fato. O conceito é tão ligado aos partidos políticos como a formação da narrativa. Comecemos pela construção de uma história.

De volta a coletiva de imprensa e as refeições do presidente. Enquanto o repórter do veículo Y anota com atenção as respostas do presidente sobre a fatia de bolo consumida de manhã, o repórter X já pensa na pergunta que vai fazer sobre os cortes nas bolsas de educação. Considerem como bem superficial um acontecimento desse tipo. A ilustração é de como um ocorrido pode gerar das mais variadas histórias. A parcialidade se dá pela forma de como construir uma narrativa e o que publicar dela. O que mais chamou a atenção do repórter X do que do repórter Y? Os pontos de vista fazem parte dos seres humanos. Cada indivíduo tem a habilidade de observar o ambiente e perceber coisas que aos olhos de outros são imperceptíveis. A narrativa de como o construir uma notícia já passa pela tomada de partido. Ou seja, a formação de uma notícia por si já tem uma parcialidade.

Janet Malcolm, escritora da revista americana New Yorker ilustra bem, em alguns dos livros dela, o tom da parcialidade do jornalismo. Ao ler as obras da autora tcheca “O jornalista e o assassino” e “Anatomia de um julgamento” - histórias distintas, mas que tratam de casos que foram a júri – fica evidente o tratamento da parcialidade não só de quem escreve o livro, mas como de quem julga os casos. Tudo isso é transmitido, claro, para o leitor, que toma seu partido ao final de cada livro. A posição assumida por Janet apresentada em um livro jornalístico é algo que está presente no mundo inteiro – e o jornalismo está incluído.

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Jornalistas a espera de uma coletiva na Casa Branca. (Foto: Doug Mills)

Todo jornal tem um editorial. Nas linhas mais pobres, é o posicionamento e valores defendidos por aquele veículo. Nos Estados Unidos, por exemplo, o USA Today, o New York Times e o Dallas Morning Show declararam abertamente oposição a Donald Trump, na época das eleições, enquanto a Fox News apoiou o candidato. Assumir uma posição não significa se esquecer de informar, de mostrar ao público o que se passa. Isso é jornalismo. Correr atrás da verdade, mesmo que se assuma uma posição para isso. Se a economia americana crescer com ou sem Donald Trump, a verdade vai estar nos jornais, mesmo que de formas diferentes. No Brasil, o monopólio da Rede Globo e as diversas vertentes de direita e esquerda dificultam um pouco a clareza das coisas – não temos somente republicanos e democratas aqui.

O que ainda acontece é que os grandes veículos brasileiros ainda insistem na maquiagem da imparcialidade. Essa tentativa de esconder nos panos um tópico já ultrapassado da ética jornalística gera ainda mais confusão e conflito com a sociedade. O jornalista é um indivíduo que tem opiniões e deve dá-las. A diferença é que, ao mesmo tempo, ele tem o dever de informar acima de tudo. Ao ler ou escrever um texto, o objetivo é formar uma opinião sobre aquilo. Ser parcial é algo intrínseco no ser humano. Ao digitar esse texto, eu escolhi um lado, apresentei meus argumentos e deixei a critério de você, leitor, selecionar a opção que quiser. Pode concordar ou discordar comigo, mas não tente ser imparcial, isso não existe.

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