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Julia Gerchenzon
29 Junho, 2020
O básico para entender como funciona o processo eleitoral
Os Estados Unidos operam com a mesma constituição desde 1787, que está ancorada nos pais fundadores, que está ligada com a lógica de um controle elitista. Os EUA seguem o modelo republicano federativo presidencialista, ou seja, cada estado tem suas próprias instituições e leis, mas são submetidos a um poder administrativo central.
O processo eleitoral começa na primeira metade do ano com as prévias, as primárias dos partidos. Nesse momento, é escolhido qual dos pré-candidatos dos respectivos partidos vai, de fato, participar da corrida presidencial. Os pré-candidatos precisam conseguir um aval popular pra mostrar para o partido que eles são competitivos. Mas a escolha não é feita diretamente pelos americanos, e sim, por meio de um colegiado eleitoral, escolhido pela população. Além disso, cada partido pode decidir quem vai ser o representante oficial, não necessariamente, é aquele candidato que teve mais votos nas prévias.
Após os candidatos vencerem nas Convenções Partidárias, eles se tornam candidatos únicos de seus respectivos partidos e o processo eleitoral entra na segunda fase. Há uma eleição geral, mas isso não quer dizer que o candidato com o maior número de votos vai ser eleito, porque depende do colégio eleitoral. As eleições funcionam por meio de representação desse colégio eleitoral. Mas o que é isso? O colégio eleitoral é a soma dos representantes que cada estado possui de acordo com sua densidade populacional. Ao todo são 538 cadeiras divididas pelos 50 estados americanos. Há estados mais poderosos que outros, por exemplo, a Califórnia tem 55 cadeiras, a Flórida tem 27 cadeiras e o Texas tem 34 cadeiras. Não importa a quantidade de estados, e sim, o número de cadeiras.
Resultado das eleições dos Estados Unidos em 2016. (Fonte: dw.com)

Em quase todos os estados funciona o seguinte sistema: cada estado tem a sua eleição, e o candidato que ganhar nesse determinado estado vai receber todas as cadeiras, ele leva todos os votos dos delegados daquele estado, não importa a porcentagem. É o que os americanos chamam de tudo ou nada, o chamado "The winner takes all" ("O vencedor leva tudo"). Tanto o candidato à presidência quanto o candidato à vice-presidência precisam ter a maioria absoluta dos votos dos delegados para serem eleitos, portanto, 270 votos, no mínimo.
Nos Estados Unidos, na corrida presidencial, é levado em conta os chamados blue states: estados que normalmente votam pelos democratas, red states: a mesma coisa com os republicanos, swing states: estados que mudam de perfil de eleição para eleição , e o mais recente, purple states: estados que estão mudando o padrão de votação, ou seja, um estado que costumava ter maioria de votos republicanos, agora está mudando de lado, e vice, e versa. É bom lembrar que o voto não é obrigatório e com esse modelo de votação, através de um colégio eleitoral, as eleições se tornam indiretas.
CONTINUA
Pedro Bueno
29 Junho, 2020
Naufrágio à vista?
Em meio à um cenário caótico no mundo, os Estados Unidos vivem um ano eleitoral. Marcadas para o dia 3 de novembro, as eleições presidenciais são diretamente impactadas pelo contexto atual. A disputa está entre o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden, e o atual presidente não tem os números a seu favor. O país é dono absoluto da liderança mundial em casos e mortes por coronavírus - a diferença para o Brasil, segundo colocado, é abissal. A morte de George Floyd e o Black Lives Matter, estourado em Minneapolis e levada ao mundo, escancarou o antigo problema de violência policial contra negros nos Estados Unidos. No contexto, o presidente deveria ser uma figura de liderança, que tenha um tato para lidar em todas as frentes, tanto no cenário político-econômico, como no social e, nesse caso, Trump não parece dominar esse artifício, e isso se reflete na corrida eleitoral.
Biden tem uma vantagem de 14 pontos sobre o adversário, segundo a mais recente pesquisa feita pelo New York Times e o Siena College. Mas o interessante é localizar as intenções de voto, que não só escancara a larga vantagem do democrata entre mulheres, negros, latinos e jovens, mas como indica uma abertura de caminho para os tradicionais votantes inclinados aos republicanos trocarem de lado. Um exemplo disso é de quase três quintos dos eleitores desaprovam o tratamento dado por Trump à pandemia do coronavírus, incluindo a maioria dos eleitores brancos e eleitores homens. A base de Trump está mesmo consolidada entre os conservadores, os republicanos de carteirinha e os brancos sem ensino superior.

Os outros 14% incluem quem votou em outro candidato ou não sabe em quem votar. Baseado na pesquisa do New York Times/Siena College que ouviu 1,337 votantes de 17 de Junho a 22 de Junho. (Foto: NYT)
O que esse cenário pode significar para as eleições em novembro? Apesar do The Economist colocar as chances de Trump vencer as eleições, hoje, ser de apenas 11%, é quase ignorância dizer que a reeleição foi pro espaço e que o tempo do atual presidente na Casa Branca acabou. As eleições de 2016 ensinaram isso, mesmo que os números de projeção de Biden sejam maiores que de Hillary Clinton. O que pode influenciar o voto do americano é a chamada “memória curta”. Uma eleição no ano mais caótico dos últimos tempos não é o ideal para um presidente que responde agressivamente aos protestos raciais, se recusa a usar máscara em aparições públicas, quer reabrir a economia o mais rápido possível, mesmo ao custo de expor as pessoas a maiores riscos à saúde, e que tem o país governado com números extraordinários no combate ao Covid-19.
Algo soou familiar? A submissão de Bolsonaro à Trump pode gerar um órfão na política externa, caso o salão oval não tenha mais na mesa o nome de hoje. A questão também pode afetar a moral e a ideologia do presidente brasileiro. Como vimos, a relação entres os chefes de Estado são coincidentemente assustadoras. Bolsonaro navega - de jetski - nas mesmas águas que Trump, no contexto atual. O presidente brasileiro, que já viu Macri ser derrotado na Argentina, pode ter que se despedir também do querido companheiro americano e se ver sozinho no meio de um mar turbulento, que sem estrutura e tripulação, pode acabar naufragando.